terça-feira, 12 de abril de 2011

Folha vermelha.

Existe uma única árvore, em todo o Parque, que possui folhas vermelhas. E tu, tu és a única folha vermelha que permanece firmemente agarrada à sua árvore. À tua volta, um enorme espectáculo de folhas adormecidas no chão, folhas de todas as cores, de todas as árvores. Mas mesmo debaixo de ti (e talvez por isso não tivesses a vista mais privilegiada), há apenas uma enorme mancha vermelha – pequenas folhas vermelhas cravadas sujamente no chão de pedra. As outras árvores têm terra macia, folhas de cores, flores e frutos. A tua não. A tua tem pedra e folhas vermelhas, apenas.

Este espectáculo natural magoa-te de forma sobrenatural. Sendo tu a última folha vermelha, desilude-te o facto de estares sozinha numa árvore melancólica e indiferente. (Apercebeste-te de que jamais poderás mudar de cor como as folhas das outras árvores? Porquê? Parece-me absurdo não teres essa oportunidade, ou serás tu que não queres?)

Cai, então, a primeira chuva que te faz embalar num dos teus últimos sonhos enquanto choras… Sopra uma brisa que te desprende, cais dançando… (Mas eu sei que a tua existência foi muito mais do que um pesadelo feito de sonhos a mentir, foi um sonho feito de medos bem reais.)

Nessa tua dança graciosa, que tanto me angustia e sempre me fez chorar, caíste mas ficaste. Não foste embora, não abandonaste a tua triste árvore. (E se a árvore te chorou para te libertar? Porque não foste ser livre e feliz?)

Por mais que queiras, não viverás eternamente nesses suaves e doces pesadelos. Mesmo sendo a pequena folha vermelha, não.

(Um dia vais ser, sem mim…)

Sem comentários:

Enviar um comentário