quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A chuva.

Um jantar simples e perfeitamente normal. Um Ser incrivelmente especial. Uma noite de chuva como tantas outras. Uma relação mágica e única.

A dor de cabeça foi terrível, o humor foi inconstante, a mente foi insaciável.
Mesmo não existindo qualquer sombra de fantasma, pode ser-se assombrado pelo próprio pensamento... A verdade é que não existem sombras, ou fantasmas ou qualquer outra coisa que possa pôr em causa o que quer que seja. A verdade é, também, que algo indefinidamente estranho inquieta, tal pisco teimoso que teima em não sair do olho. A verdade é, ainda, que a chuva molha...

Uma vez mais, neste cantinho, o desassossego permanece. Como chegou ou por que veio, não sei; mas sei absolutamente que tem que ir, que quero que desapareça. É uma sensação estranhíssima a de não se ser rei e senhor de todos os pensamentos e emoções. Creio que nunca a tinha experimentado... É como se alguém invisível estivesse dentro de nós, a criar pensamentos que nunca nos ocorreriam, a plantar emoções que vez alguma teríamos escolhido para serem nossas. E tudo isto faz com que o nosso ser se nos torne estranho.

O mais incrível é que eu tento sempre desviar-me das pingas e hoje molhei-me... Ou molharam-me? Como um balde de água gélida despejado neste corpo - as gotinhas escorrem bruscamente, criando uma sensação arrepiante e de culpa...

E todos os pedacinhos de nuvens que chegam ao chão são pedacinhos de mim... O céu seria capaz de me compreender - a perda é agoniante. O chão também - a chuva magoa.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O desassossego...

Depois de uma noite imensamente mal dormida, depois de voltas e voltas nesta minha pequena cama emprestada, finalmente acordei. Acordei, olhei para o lado e senti uma espécie de vazio... Não aquele vazio libertador a que já me habituei, que de quando em vez decide invadir o meu espírito apenas para eu parar e sentir. Sentir tudo o que quero sentir e não sinto porque a febre da razão não permite. Um vazio diferente... Um vazio amargo e terrivelmente sóbrio. Um vazio que se tornou o meu desassossego neste dia chuvoso...

Atormentada pelos sonhos bizarros que a amaldiçoada noite trouxe até mim, na tentativa de enganar o vazio inquietante, fui deambulando até ao Teatro. Um bom café, um bom ambiente, uma boa companhia. Nada. O café poderia ser leite, que eu não notaria a diferença - como se o meu apurado paladar fosse inexistente. O ambiente, por norma estranhamente familiar, apenas multidão desconhecida que não pertence aquele meu lugar, ou a lugar algum. A companhia (talvez a única coisa que senti para além do vazio ensurdecedor) fez-me bem, momentaneamente - porém, foi como se a minha sensibilidade se tivesse tornado invisível. Nada disto fez qualquer sentido para uma mente perturbada que procura sentido na mais pequena coisa e, simultaneamente, tenta escapar ao sentido das monstruosas realidades.

E agora? Um bom jantar na companhia certa irá certamente apagar este vazio...
Ou então não. Está entranhado na minha roupa - dispo-me, tento harmonizar-me comigo mesma. Está impregnado na minha pele - ponho perfume, tento enganar-me e enganar o próprio vazio. Não desaparece, não posso despir-me de mim...

Não! ...mas este vazio? Este desassossego tão vago e tão profundo é simples e insuportavelmente vazio. Um vazio cheio de nada e despejado de tudo.
A não ser que... Creio que tentei ir pelo caminho mais longo, desviar-me das pingas e não pisar muitas poças... para não sujar coisa alguma e muito menos alterar o perfeito alinhamento de qualquer coisa. A não ser que seja exactamente o que não deveria ser... Como pode ser pouco mais que nada, que desassossega como se fosse pouco menos que tudo, ou mesmo tudo?

Fica a esperança que o amanhã traga um pouco mais que este vazio...
Ou um pouco mais que nada...