segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O desassossego...

Depois de uma noite imensamente mal dormida, depois de voltas e voltas nesta minha pequena cama emprestada, finalmente acordei. Acordei, olhei para o lado e senti uma espécie de vazio... Não aquele vazio libertador a que já me habituei, que de quando em vez decide invadir o meu espírito apenas para eu parar e sentir. Sentir tudo o que quero sentir e não sinto porque a febre da razão não permite. Um vazio diferente... Um vazio amargo e terrivelmente sóbrio. Um vazio que se tornou o meu desassossego neste dia chuvoso...

Atormentada pelos sonhos bizarros que a amaldiçoada noite trouxe até mim, na tentativa de enganar o vazio inquietante, fui deambulando até ao Teatro. Um bom café, um bom ambiente, uma boa companhia. Nada. O café poderia ser leite, que eu não notaria a diferença - como se o meu apurado paladar fosse inexistente. O ambiente, por norma estranhamente familiar, apenas multidão desconhecida que não pertence aquele meu lugar, ou a lugar algum. A companhia (talvez a única coisa que senti para além do vazio ensurdecedor) fez-me bem, momentaneamente - porém, foi como se a minha sensibilidade se tivesse tornado invisível. Nada disto fez qualquer sentido para uma mente perturbada que procura sentido na mais pequena coisa e, simultaneamente, tenta escapar ao sentido das monstruosas realidades.

E agora? Um bom jantar na companhia certa irá certamente apagar este vazio...
Ou então não. Está entranhado na minha roupa - dispo-me, tento harmonizar-me comigo mesma. Está impregnado na minha pele - ponho perfume, tento enganar-me e enganar o próprio vazio. Não desaparece, não posso despir-me de mim...

Não! ...mas este vazio? Este desassossego tão vago e tão profundo é simples e insuportavelmente vazio. Um vazio cheio de nada e despejado de tudo.
A não ser que... Creio que tentei ir pelo caminho mais longo, desviar-me das pingas e não pisar muitas poças... para não sujar coisa alguma e muito menos alterar o perfeito alinhamento de qualquer coisa. A não ser que seja exactamente o que não deveria ser... Como pode ser pouco mais que nada, que desassossega como se fosse pouco menos que tudo, ou mesmo tudo?

Fica a esperança que o amanhã traga um pouco mais que este vazio...
Ou um pouco mais que nada...

1 comentário:

  1. Tocou-me o texto, apenas penso porque a minha consciência por vezes não sente melhor sentimento que eu, mas apenas pontos nas interrogações infinitas a que sempre se acrescenta algo quando o nosso amigo tempo nos avança, um sinal que por vezes mesmo parecendo haver tudo para nós, é como se nada houvesse, o grão de areia que está no mar mas que nos incomoda tremendamente, pela sua pequena falta, por muito infima que ela seja...

    Parabéns Leonor adorei o teu texto

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